aulas suspensas

Como tratar a situação sobre aulas presenciais com as crianças

Rodrigo Ricordi e Leonardo Catto

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

Na última sexta-feira, o governo estadual publicou um decreto que passava a permitir a cogestão também para a área de educação. Com isso, as aulas de forma presencial poderiam ser realizadas no caso da Educação Infantil e 1º e 2º anos do Ensino Fundamental. Porém, no domingo, o Tribunal de Justiça do Estado (TJRS) decidiu que as aulas presenciais seguiriam suspensas em todo o Rio Grande do Sul. Isso pegou escolas e pais desprevenidos, pois já havia toda uma organização para o retorno. Além disso, a indefinição do retorno aumenta os efeitos causados pela pandemia nas crianças, que estão afastadas do convívio desde que as aulas foram suspensas.

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Para a psicóloga Rochelli Pacheco, especialista em saúde mental, cada sujeito age e sofre de um jeito diferente frente ao sofrimento emocional que estamos vivendo na pandemia. Ela diz ter percebido ansiedade, irritabilidade e fragilidade emocional nos pacientes.

- Na infância, as crianças apresentam nuances bem diferentes, às vezes, dependendo da idade, elas não têm nem o desenvolvimento cognitivo desenvolvido para poder entender o que está acontecendo de fato. Então, é importante que os pais ou responsáveis tenham bastante sensibilidade e filtro para passar essas informações do porque está acontecendo, porque eles não estão indo na aula, não podem ver os amiguinhos, não podem comemorar o aniversário com todas as pessoas que eles amam.

Rochelli recomenda que é importante sempre tentar adequar as informações de acordo com a idade. Nem tudo precisa ser dito e o cuidado com o que é dito é muito importante, porque as crianças lidam com a pandemia muito relacionadas a como os pais delas lidam.

- É importante ter a sensibilidade para passar todas essas informações, dialogar e falar sobre cuidado também. Falar sobre a importância da prevenção, que a gente tem ferramentas para se prevenir e tentar evitar a contaminação. Isso também traz o assunto da valorização da vida, trabalhar conceitos de empatia, de não cuidar só de si mesmo, mas também cuidar do outro. São várias coisas que podem se trabalhar de uma maneira mais lúdica e delicada com as crianças para não ser uma conversa tão pesada - aconselha.

A psicóloga levanta também a questão de que as crianças têm passado mais tempo com os pais, o que pode acabar sendo benéfico:

- Isso ajuda muito a fortalecer muito mais os vínculos, faz os pais estarem muito presentes na vida desses filhos. É preciso ressignificar esse momento e ajudar as crianças a lidarem de uma maneira em que elas vejam esse cenário o menos catastrófico possível, apontando a realidade, mas, também apontando maneiras de prevenção, passando ensinamentos que as acalmem e ajudem a lidar com essa demanda de uma maneira mais saudável.

O modo de transmitir tranquilidade parte do exercício emocional dos pais. A psicopedagoga Franciele Grapiglia acredita que um dos modos de lidar com a situação de incerteza é não projetar as próprias frustrações nas crianças. Segundo ela, os pais podem e devem manter os filhos informados, mas devem garantir que o descontentamento não recaia sobre as crianças, que podem absorvê-lo e não têm condições de resolvê-lo.

- A criança já vive uma espera ansiosa e não se sabe até quando. Mais do que nunca, ela precisa da família. E, se isso se fragiliza, gera mais prejuízo. Não se pode potencializar a ansiedade da criança e não transferir a sua própria frustração - reflete.

A psicopedagoga argumenta que, para isso, os pais devem ter consciência que o retorno não depende exclusivamente das escolas. Dessa forma, facilita a manter uma conduta mais calma diante da situação perante a criança, e não a de cobrança à escola.

LINHA DO TEMPO

  • 23 de abril - o governo publicou um decreto que passa a permitir a cogestão também para a área de educação. Com isso, conforme o governo estadual, estariam liberadas as atividades presenciais de ensino para regiões classificadas em bandeira preta em que os protocolos municipais permitam a aplicação das regras da bandeira vermelha para as demais atividades. O governo enviou uma petição ao TJ para incluir no processo que vai julgar a possibilidade ou não 
  • 23 de abril - a Federação dos Professores, Trabalhadores Técnicos e Administrativos e Auxiliares Empregados em Estabelecimentos de Ensino - FETEE-SUL ingressou com pedido na Justiça para a não presencialidade das aulas
  • 25 de abril - o pedido foi analisado pelo juiz plantonista Paulo Augusto Oliveira Irion, que disse que a decisão seria da 1ª Vara da Fazenda Pública
  • 25 de abril - o caso então seguiu para 1ª Vara da Fazenda Pública, e a juíza Cristina Luísa Marquesan da Silva determinou que a liminar, vigente desde o dia 28 de fevereiro, continua valendo até que o TJ aprecie a petição do governo do Estado. Neste mesmo dia, a PGE entendeu que o decreto não viola a lei e pediu um esclarecimento junto ao TJ. O Ministério Público, que entende que na cogestão ficam permitidas as aulas presenciais, recorreu. Na noite de domingo, atendendo o pedido da PGE e analisando o recurso do MP, o desembargador de Justiça Luiz Felipe Silveira Difini negou recurso do Ministério Público (MP) e manteve suspensa a volta às aulas presenciais. A PGE recorreu novamente. Em outro despacho, o desembargador Antonio Vinicius Amaro da Silveira proferiu outra decisão, também na noite deste domingo, em que antecipou para as 18h desta segunda-feira o julgamento do mérito da ação, em que o TJ gaúcho decidirá se as aulas presenciais poderão ser retomadas ou não. 

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